sexta-feira, 5 de outubro de 2007

CantoXI

A cena vista dali era como de cinema. No topo de um pequeno monte, sob a sombra de uma arvore de primavera, recostada na única pedra, estava ela. A mulher mais linda, posta no mais lindo vestido florido.
Lia um livro que, apesar de ele não conseguir ler por causa da distancia, sabia qual era: “Obras completas de Florbela Espanca”. Ela costumava dedicar-lhe a leitura de alguns desses poemas.
Observando-a, sua mente voltou ao passado, ao momento em que se conheceram. Dezenove anos antes. Nas estantes mais profundas da biblioteca da cidade, estava ela. Discutia com machado de Assis como discutia agora com Florbela. Ele não resistiu, sentou-se ao lado dela e, por mais que tenha sido por meia hora, apaixonou-se. Uma hora, já a amava por inteira.
Caminhou lentamente pelo monte até que estivesse sobre a sombra da árvore ao lado dela e beijou-lhe a boca como quem morde morangos. Segurou-lhe as mãos sorrindo e o silêncio era tão puro que se ouvia música.
A tarde foi-se. Indo, até que ela quebrasse o silencio:
“Fumo”
“O quê?”

“Longe de ti são ermos os caminhos!
Longe de ti não há luar nem rosas
Longe de ti há noites silenciosas,
Há dias sem calor, beirais sem ninhos.

Meus olhos são dois velhos pobrezinhos...
Perdidos pelas noites invernosas...
Alertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces plenas de carinho!

Os dias são outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...
Há murmúrios dolentes de segredos...

Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, oh meu amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...”

Ela o olhava como se fosse capaz de vê-lo por dentro. Sua mente voou para o momento em que se haviam visto pela primeira vez. Aquela biblioteca onde passara os dias de sua adolescência nunca fora tão divertida. Foram expulsos por perturbar o silencio com aquela conversa interminável sobre flores. Pensava em como seria tudo depois do fim. Ela sabia que o poema havia sido suficiente.
“Longe de ti tudo finda”, foi a resposta.
“Não há outro jeito.”
“E esse é o epílogo do final feliz?”
“Parece que sim”
A verdade sobre a vida é a de que tudo é pétala. As pétalas mais coloridas e diversas que se possa contar na Amazônia. Mas elas se vão, indo de flor em flor. Pétala que é pétala é leve e vai com o vento.
O mundo parecia acabar. Sua mente galopou para um futuro em que ela não estaria mais a lhe recitar poemas. A vida jamais seria mais triste. Ermos seriam os caminhos, sem luar nem rosas. Nada restaria na noite senão a mais silenciosa música da expansão do universo. O chiado de uma televisão sem sinal. A voz que lhe cantaria vazio.
O amor, a ferida que arde sem se ver, é, e não há como fugir, infinito enquanto dura. O poeta tinha razão. Os apaixonados são invencíveis. Imortais. Para eles, o amor jamais tem fim. A vida, o céu, as árvores, os montes, as flores. Todos infinitos.
A realidade é que tudo finda. E quando ela se esvai, volta a ser pó, que alimenta a terra, que alimenta as flores, que alimenta outras paixões, ele fica. Só. Sujeito à loucura.
Solitário, jogou-se nas academias de filosofia. Buscou, pelo resto dos anos, a teoria mais exata, a explicação mais simples e racional para as ações do amor. Como não achou, porque na há, esperou que a vida lhe fosse. E foi.

2 comentários:

Lupos, Canis disse...

conheço essa historia!

^^

que coisa não ?!?!?

Lupos, Canis disse...

resposta da resposta
pantera pantera....^^ em momento algum disse que seria esse conto uma parte de sua vida^^
apesar de saber que não há como não ser.... visto que só por lhe pertencer ou por tu te-lo lido já faz parte de sua vida!

^^enfim só disse que já conheço a historia.... em outras palavras já vi esse filme!

tenha um lindo dia
um sorriso milady