sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Sobre o quão pequenos somos

Eu amo o que eu vejo e ainda mal sei ver

E amo música e ainda mal sei ouvir…

Amo o que ainda me é tão pouco…

Então se amo o que ainda é,

E gosto das coisas como as sinto agora,

E mal posso caber em mim de tanto amor por elas que sinto!…

E mal posso vê-las pela metade, quem diria por completo?!…

E não agüento o quanto imensas elas já são dentro de mim…

Se isso, o quê de quando forem de seu tamanho real?

Ou mesmo pouco maior do que as posso sentir?

Se sinto-as tão pequenas partes de mim

E ainda assim me sinto transbordando delas,

Serei eu cada vez maior e mais sensível do que sou?

Serei eu cada vez menor e me conformarei com a ignorância de não saber da totalidade das coisas, sem nem mesmo tê-las buscado?

O que será de mim quando eu ouvir tudo o que a música tem para tocar…?

O que será de mim quando eu puder ver tudo o que ainda falta para ver…?

Explodirei de tanto, e acabarei?

É assim o verdadeiro final das coisas?

Encher-se de tudo como um balão e finalmente não caber mais?

E será que todas as coisas chegarão um dia a caber tudo o que há?

Que coisa será eu? Caberei eu um dia em mim mesma?

Segredos

No mundo nao há como saber de todas as coisas
Tudo no mundo que é de conhecimento de alguém,
é de alguém segredo inalcansável
Pois o saber de tudo o que há é um secreto prazer…
feito apenas para os deuses
E disso não há escapatória.
Pois todos conhecemos a fama dos deuses,
Egoístas e malvados, poderosos, que guardam tudo o que é tudo.
O tudo é um segredo.
Que serão essas coisas que nem sabemos que sabemos?
Que serão as coisas que compreenderiamos sobre tudo,
se soubessemos todos os segredos de cada um,
cada um que não sabe nossos segredos?
Que elfos e que príncipes não escondem?
Que anjos não dormem debaixo da cama dos segredos que ignoramos?
como podemos saber do que existe e não existe,
se não somos deuses e não sabemos do tudo?
Como nós, pobres seres humanos, tão pequenos e ignorantes,
petulamos dizer o que existe e o que não existe?
Que fadas? Que demônios?
Que fantasmas? Que finais felizes?
Que amores? Que homenzinhos verdes? Que cidades de ouro?
Que segredos?

Só dois para um romance apaixonado

Só os apaixonados têm o poder de sair-se de livros

Como se fosse, a capa, um portão sem tranca!

Mesmo assim, só em pares…

Só se forem dois!

Ah! Pobre! Mas se for apenas um…

Um apenas

Este único será entregue ao escárnio da realidade…

Este sozinho é linchado pelo ridículo,

E encontra o portão das metáforas fechado…

A natureza da Beleza

A beleza há

Em todas as coisas que andam sozinhas e passam pela minha janela

E há tão completamente, que mesmo se vê,

E a beleza passa e se diverte de si mesma.

Pois é bonita.

E bonita, a beleza é a lindeza em si.

Que as belezas mais lindas são as belezas sem adornos

Pois o que é solitário e passa pela janela é completo

Com janela ou sem janela

Mesmo sem observador…

É inteira

É a existência da beleza.

E só.

Sobre cartas de Amor

O amor nos prende das formas mais absurdas. Declarar o amor já uma idéia absurda por si. Por que amar já subentende o medo de não ser amado. Por que nós amamos para garantir que alguém um dia nos amará. Dar e receber. Talvez sejamos assim. Então se declarar é tão complicado que eles (eles quem?) criaram até uma profissão para isso. Artista! Claro que não deu certo, (como tudo que eles fazem) porque os artistas resolveram alargar seus limites profissionais e falar sobre tudo com aquela linguagem complicada de artista. Mas isso é um assunto para um outro comentário. Basta dizer que essa profissão complicada desvalorizada de vida filha da puta (para quem as vive! Porra!) foi mesmo criada só para que o amor que existe na superfície fosse declarado, posto as limpas, branquinho de água sanitária… É claro que os artistas, sacanas do jeito que são, resolveram falar do que é negro e está nas profundezas também. Mas, enfim… Como se fazem as cartas de amor?

Para declarar o amor é preciso aceitá-lo. Não há como deixar alguém saber dos seus sentimentos sem entregá-los completamente a ele. Seus sentimentos devem ser do outro, a decisão tem de ser do outro. Porque quando somos donos do nosso próprio amor, a decisão é nossa e o poder é nosso. Quando ele permanece em segredo. Um amor é um jogo de poderes. Para se escrever uma carta de amor é preciso enviar o seu amor de presente. Perder o controle. Deixar de mandar. Ditar as regras. Vulnerabilizar.

Eu amo há muito tempo. Mas nunca perdi o controle.

Carta de Amor

Meu amor, haverá tempo em que serei mais que uma pobre sem metafísica? Meu amor, como as pedras que são e sempre serão pedras, e não tem nenhuma fórmula que as faça evoluir à pássaros ou árvores ou ninhos. Será que serei, um dia, ouvida como algo mais que uma pedra?

Que penso em você todos os dias. E aceito isso. Será, meu amor, que é esta minha metafísica? Como os óculos que são seus e você os põe toda manhã depois de lavar o rosto, toda manhã abro os olhos e não sou capaz de escolher uma teoria que te exclua da minha vida. Será essa minha filosofia? A metafísica de ser sua? Porque visto o meu amor toda manhã, como você veste os óculos. Porque precisa deles para ver com clareza.

Meu amor, como estão seus olhos? Ainda querem ser verdes? Como anda a sua boca? Ainda virgem da minha? Confesso que já não sei. Não mais sei do real e do incerto, tantos os devaneios de saudade em que me meti. Já não sei mais o que realmente vivi, ou o que realmente sonhei. Tudo me parece real. Tudo é verdade em mim. Mais verdade que qualquer outra. Mais verdade que o chá que tomei esta manha. Porque tomei o chá pensando se estaria tomando chá comigo. Você é realidade em mim. E eu aceito isso. Mas como anda, meu amor, em você? O que é, de nós, realidade para todos? Sofro. Que minha realidade ronda sua casa e não é capaz de entrar. É capaz de me ouvir? Estou cantando.

Ouça-me. Pela última vez antes que eu pare de cantar meus versos. Ouça-me. Por favor, ouça. Diga-me, serei sempre a pedra que veste seus óculos?Quero ser pássaro, árvore, ninho ou terra fofa ou nuvens…

Meu amor, ouça-me.

Sobre o grande escritor do mundo

Queria ter saído, eu, de um livro de romances!

Porque assim as coisas caminhariam pela vontade de alguém

Como se deus fosse de fato um escritor

E não apenas um criador

Assim as coisas seriam da parte pelo todo

Propositalmente bem encaixadas

E os diálogos não ousariam mais que polissíndetos e aliterações…

E mesmo que as comparações não tivessem em si…

Um como, ou do mesmo modo…

Seriam, assim, propositalmente comparações…

Interligando ainda mais as coisas…

Se fosse eu Capitu pulada da página

E do poder que tinham seus olhos oblíquos,

E fosse meu amor o Pequeno Príncipe…

E dele fosse o amor das raposas…

Então a vida seria mesmo tecida por um só homem com uma pena.

E se fosse assim…

Oh! Vida! Se fosse…

Não seriamos, nós, frutos das vontades…

Vontades nossas e dos outros

Desejos quaisquer de cada um que de fato exista ou tenha existido

Seriamos, então, fruto de uma só coerência.

E não da coerência de tantos que não fazem coerência alguma

Livre então das imprevisibilidades da vida.

Teríamos então o requinte de um final bem pensado,

Um começo arquitetado.

Seriamos, nós humanos e criaturas vivas, plantas à pena de um nobre arquiteto…

Um nome só que tivesse uma mente só, por mais divina que fosse…

Esse escritor nos governaria a caminhos que merecêssemos…

E não seria um Deus cheio de benevolência que muitas vezes tenta em vão

Salvar-nos do que decidimos divino.

O que há com as cebolas?

Porque as cebolas estão pequenas e mirradas? Fui ao supermercado esta tarde e notei esse fenômeno doméstico. Mas o fenômeno não é o fato de elas estarem feias, pequenas e pouco atraentes hoje. O fenômeno é que elas têm estado assim. Desde que fui fazer compras de cebolas no mês passado, quando eu quis inventar um molho de macarrão. Notei desta vez e me atentei hoje à tarde que elas continuam assim. Como não sei nada de cebolas ou sobre como deveriam ser normalmente, ao contrário de pouco desejáveis, resolvi pesquisar sobre elas. O que são cebolas? Para que nos servem? Como são cultivadas? O que as atrapalha?

O resultado dessa pesquisa foi muito interessante. Primeiro eu adicionei ao meu vocabulário as palavras; flavonóides, sulfóxidos de cisteína, compostos organosulfurados, antocianinas, bulbos, quercetinas, anticarcinogênicas. O que eu achei sinceramente muito divertido, porque não quero pôr nos meus filhos nomes bonitos como Paulo, Pedro, Sarah, Laura, e outros. Também porque cebolas passaram a ser, para mim, coisas interessantes de se homenagear…

Segundo, e mais importante resultado, foi que descobri que as cebolas são hortaliças. Hortaliça é tudo o que é vegetal, cultivado em horta e cujas partes, todas, são comestíveis. Vegetal é tudo o que é planta. O valor nutricional da cebola é sem igual, pois é nossa fonte de um mineral chamado selênio, este se em deficiência gera catarata, distrofia muscular, depressão, necrose do fígado, infertilidade, doenças cardíacas e câncer. E ainda tem o bônus de oferecer proteção contra doenças relacionadas ao envelhecimento. Então, louvemos as cebolas por passarem despercebidas e ter tanta influencia nutricional para nosso organismo. E mais.

Mais que agora sei sobre cebolas, é que elas precisam de certas características climáticas para a produção comercial de seus bulbos (a parte da gente, de fato, comer), e quando não são cultivadas nessas condições elas ficam como eu as notei no supermercado, pequenas, murchas e apodrecem rapidamente. Que condições são essas?

Para ficarem atraentes e convidativas as cebolas precisam de bastante exposição ao sol, algumas espécies necessitam de mais de quinze horas diárias, e temperaturas altas, em média de 15° e 25°. A umidade é a principal causadora do apodrecimento precoce, em qualquer fase do crescimento da planta. A temperatura muito baixa pode causar o florescimento precoce, o que faz com que os bulbos não se formem. Acredito que o amigo leitor ainda não tenha notado o problema que atingiu. O problema sobre cebolas.

Acontece que moro em Nova Friburgo, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Um dos principais problemas sociais desta provinciana cidade no verão é o número de desabrigados. Desabrigados por causa das enchentes. Chuva! Chuva, meu caro amigo! Exatamente o que acaba com a produção de cebolas!

Assim, encontrei o problema. Por culpa do aumento de chuvas do verão, nós comemos cebolas ruins. Feias. Cebolas que não passaram batom e ou pentearam os cabelos antes de ir para as prateleiras, cebolas que não estão estonteantes e irresistíveis! E isso resolve mais uma questão doméstica sem importância que não afeta nossas vidas, mas que foi muito prazerosa de se responder! A propósito, o molho de macarrão daquela ocasião não deu certo. Ficou bonito, mas com gosto de cebola velha.

Esse é o primeiro texto escrito para o meu projeto! Que progeto?! O progeto que visa fazer de conhecimento de todos, os pequenos segredos. Quem sabe um dia consigamos ser todos deuses?