segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mais uma história de amor. Há de se perdoar o narrador.

Laura deixou sua cama e, tudo quem havia nela, já relutante. Pois certa que jornalismo seja uma excelente escolha profissional ainda era um Trabalho. Uma coisa que lhe fazia acordar cedo, toda manhã. Trabalha num jornal de uma cidade qualquer no meio do país. Com muito trabalho chegara à editora. Adorava o que fazia. Mas hoje... Hoje tudo fora estava mais frio. Enquanto tudo dentro estava mais quente. Começar o dia com um conflito. Péssima sorte.

Foi-se mesmo assim. O bom dia de trabalho se estendeu sobre o tempo, e, à tarde, já não se diria arrependida de ter saído da cama. Complicada e agitada como a vida de um jornal deve ser, logo a Mulher já se excitava com a política local. Mandara Edgard cobrir o incêndio. Enfim, bem sucedida, o dia acabara sem que pudesse perceber completamente.

Era hora. Dentro do carro, só conseguia pensar em seu Marido, deixado à horas, que provavelmente já estaria em casa, vindo do ensaio. Músico, alegre, descansado, viril, e, desta vez, só porque é hoje, obediente.

Dito. Feito. Estava lá, na sala, dentro do piano, os dedos tensos e os cabelos descansados. Sorriu para ela como quem vê um monte de borboletas afoitas. E era isso mesmo. Nada sobre jantar, dia de trabalho, problemas com a vizinha, falta da empregada. Laura puxou-o do piano e guiou-o até um quarto. Afoita.

Ele ria da Mulher. Divertido e brincalhão, arrancou a própria camisa e atirou-a pela janela. Caiu na piscina. As mãos de trinta e sete anos avançaram para as coxas de trinta e dois.

Sob ele, Laura tateou a gaveta da cômoda. Achou lá uma pequena caixa de madeira, com dificuldade abriu-a. Tateou-a por dentro.

- Onde estão as Camisinhas?

- Ah... Amor, eu não comprei. – ele respondeu.

- Eu preciso das camisinhas! – com absoluta certeza, aquilo não era obediência.

- Na verdade, - disse sobre os cotovelos para vê-la melhor – Você não precisa.

- Eu preciso das camisinhas!

- Eu tenho um motivo para não as ter comprado!

- Você tem?!

- Sim! Eu quero a tentar ter um bebê!

- Eu PRECISO das camisinhas, Miguel!

- Eu tenho trinta e sete anos, Laura! Eu quero ter um filho!

- Eu não quero ter um filho! – levantou-o devagar de sobre si.

E quando Miguel indagou-a por que, de braços cruzados e joelhos na cama, ela respondeu que não podia ser Mãe. Em troca do segundo por que, disse que não possuía as habilidades necessárias.

- Que habilidades necessárias? Você tem um útero!

Não tinha um emprego adequado para a maternidade. Respondeu que para ser mãe deveria ser outra coisa que não jornalista. Deveria ser alguém com prática. Professora de jardim de infância! E por que ele riu dela um riso de ridículo, Laura disse que não seria Mãe porque provavelmente quebraria a Criança em pedaços, antes do umbigo cair. Como fizera com todas as próprias bonecas. As dela e as da irmã.

Vendo que por bases racionais não convenceria a esposa, aproximou-se novamente. As mãos novamente. E sussurrando em seu ouvido como Ele gostaria de ter um bebê... Conseguiu que ela o jogasse para longe da cama. Levantasse com raiva.

- Não!... Você! Você não pode fazer isso! – sempre que ficava nervosa desconectava as palavras...

- Laura! Volte para cama... – Ele pediu, o mais doce que foi capaz...

- Não – E o armário que já se abria deu-a um casaco. Ela desceu as escadas e, rapidamente fugiu.

Um hora mais tarde...

- Pai!

- Ué! O que foi? Vem aqui me dar um abraço!

- Miguel não comprou as camisinhas!

- Perdão?!

- As camisinhas, Pai! Malha de plástico capaz de conter as células mais minúsculas!

-Mas...

- Malditas células minúsculas!

- E por que você não comprou?

- Ele é que faz essas coisas. Comigo é a execução!

- Mas para quê tanto desespero?Ele quer...?

- Ter um bebê!

Laura sabia para onde correr e ter guarida. Seu pai sempre entenderia. Contou a ele sobre tudo o que acontecera em seu dia. Tinha certeza de que ele estaria, de fato, interessado. Era o pai.

E contou tudo, nos mínimos detalhes, porque o pai era seu conselheiro de verdade. Ele sabia de tudo. Sobrevivera à pior parte adolescente. Ele entenderia perfeitamente.

Depois de abraçar a filha, e, abraçar seus dramas com o calor paternal, indagou se ela estava certa de não querer ter filhos. Ele mesmo gostara muito!

- Eu vou quebrar a criança antes do umbigo cair! E se isso não acontecer, o que certamente duvido, ele, ou ela, vai crescer, me forçar a gritar por ele, ou ela, pela rua enquanto se esconde do banho. Daí eu, que não tenho paciência, vou parar de procurar. Ele, ou ela, vai aparecer três dias depois, na garagem, com frio, desidratado, com fome e fedendo. E ainda vou me sentir culpada por isso!

- Essa é a melhor parte, minha filha!

- Melhor parte?! Melhor parte?! Não vai nem ser o começo! Ele, ou ela, vai crescer! Você já percebeu que as crianças não param de crescer?! Vai durar uns dezesseis anos! Eu vou ser a pior Mãe do universo inteiro e ele, ou ela, vai ser cheio, ou cheia, de problemas! Traumas para tudo o quanto for setor mental! Em todas as linhas da psicologia! E... E... – desconectou novamente – V...Vai... Vai pôr a culpa em mim! – engrenou, finalmente - Porque eu seria a mãe dele...

- Minha filha...

- Ou Dela!!! – Laura pôs as mãos enterradas nas raízes dos cabelos e apertou a própria cabeça como se fosse capaz de arrancar-se de um pesadelo. – O provável é que eu consiga quebrá-lo, ou quebrá-la, antes que possa sequer dar um passo!

- Mas, minha filha, você ainda não está grávida, está?

- NÃO! Eu fugi!

- E você prefere que seja ele ou ela?

- ELA!

Foi então que o Velho riu um sorriso largo e seguro. Sábio como deveriam ser os pais de filhas adultas. Com as vidas prontas. Simplesmente conselheiros. Este Pai o era. E feliz estava por já ter provado o próprio ponto. Conhecia a própria filha muito bem. Sabia que, no fundo, ela não passava de uma axagerada e assustada auto-limitadora. Uma daquelas pessoas que é capaz de fazer qualquer coisa, mas insiste em escolher o que não seriam capazes de fazer. Pessoas que escolhem o próprio ponto fraco. Têm medo do próprio poder. Laura era assim, seu Pai sabia disso.

Inventara para si mesma que jamais seria capaz de ser Mãe. Mesmo quando todas as Crianças da família a amavam. Todo o desespero que a filha inventava já era conhecido pelo pai. E só havia uma coisa que ele pudesse fazer.

- Você sabe que pode fazer tudo o que quiser fazer, não sabe, minha filha?

- Pai! – choramingou – eu não posso ter um bebê... Eu vou acabar esquecendo de alimentá-lo... Como aquele coelho... Lembra do coelho, pai? Eu matei o coelho.

- Mas o seu marido não vai deixar você fazer isso...

- Não entendi...

- Ele não vai te deixar quebrar a sua boneca!

- Boneca?!

- Vai ser dele também! Vocês estão juntos!

- Ele nunca teve uma boneca, ia ser a primeira boneca do Miguel.

- Você não vai estar sozinha! – e disse mais – Eu estarei com você! Ou você acha que eu vou deixar meu primeiro neto sem saber jogar futebol?

- Miguel não sabe jogar futebol! Ele não pode ser o pai!

- Eu sei jogar futebol! Deixa o futebol comigo! Eu posso cuidar da filosofia também. Deixa as aulas de filosofia comigo!

- O filho é meu! Eu ensino filosofia!

- Eu pensei que você não quisesse ser Mãe!

- Eu...

- Quer ou não quer?

- Quando me casei, não achei que quisesse. A verdade é que eu nunca achei que Miguel fosse ser um pai para o meu filho...

- É mesmo, minha filha? – o Velho estava, agora, realmente surpreso.

- Sempre um eterno namorado.

- Isso já é uma outra questão. Você não acha?

- Semana passada eu sonhei com um bebê. Ele estava correndo em minha direção. Não era Miguel ao meu lado! Ele nunca está ao meu lado.

- Então o buraco é mais embaixo, não é?

- O problema não é ter um bebê. O problema é que o meu casamento chegou a um fim. – Laura proferiu esta frase e, congelada numa descoberta tão estranha, pensou. Sentiu um medo. E depois sentiu-se segura de uma decisão que se apagou no momento seguinte. Sentiu-se então acolhida, viera ao lugar certo. A única coisa de que precisava era que alguém estivesse ali. Ouvindo. Foi o que seu Pai fizera. Ouvira.

- Você tem certeza, meu Bebê?

- Tenho. Por isso fugi dele... Não de mim.

Mais uma hora depois. No colo do papai. Suspirou fundo e olhou a mensagem que acabara de chegar ao seu telefone:

Onde você está?!

Estou rodando pela cidade!

Não consigo te achar!

Estou preocupado!

Liga para mim!

Por favor!

Por telefone.

- Miguel?

- Laura! Pelo amor de Deus! Onde você estava?

- Estou indo para casa, você me encontra?

- Laura, o que houve? Onde você estava?

- Está tudo bem. A gente se vê em meia hora?

- Sim! – desligou.

Porta do carro aberta. Pronta para ir para casa. Recapitulando todo o dia. Tentando planejar o quê dizer. Como fazer.

- Pode me dizer as horas, por favor?

Horas? Laura virou-se para a direção da voz e ali estava uma jovem sem relógio. Observou-a. Os cabelos enrolados caídos pouco além dos ombros. A pele morena num corpo magro. Os olhos expressivamente negros. Um ar de pressa. Nada de errado havia com ela. Era tarde da noite, mas não tão tarde. Não estava perdida. Perguntava as horas apenas.

- Qual é o seu nome?

- Brena Bella!

- Eu seria uma péssima mãe.

- Isso depende do pai, não acha?

- Certo... São dez e meia!

- Obrigada!

Com um sorriso se despediu. Laura fechou a porta do carro. Chegou em casa. Uma outra chave para a porta da cozinha, depois de entrar pela garagem. Ele a esperava no sofá da sala. Ainda músico. Ainda sem a camisa. Olhou-se para a piscina para checar se a blusa havia mesmo caído lá. Sim, estava metade na água metade na escada. Branca. Sóbrio, Miguel usava muito branco.

- Qual é o seu problema? – disparou logo que há viu – Você sumiu por duas horas! Não atendeu o celular durante duas horas! Você podia ter dito ‘Não! Que quero esperar!’. Mas é claro que você tinha que sair correndo e sumir por duas horas! Caso contrário, você não seria Laura Maia.

- Me desculpe.

- Não! Não tem desculpa. É muito fácil ser você! Quando não gosta de alguma coisa é fácil, não é? É só sair correndo! Por que você não quer ter um Filho comigo? O que tem de errado com o que nós temos aqui, nesta casa, Laura? Nesta cidade?

- Você nunca teve uma boneca, Miguel!

- Mas do que você está falando?!

- Você nunca teve uma boneca, você acha que pode ser pai?

- Você quebrou as suas bonecas!

- E as da minha irmã... – Laura sentou-se ao banco do piano. De frente, mas longe dele. Encarava o destino de sua descendência sem filhos, sem marido.

- Se há alguma coisa que acha que deveria dizer, devia fazê-lo. De uma vez.

- Você é um namorado, Miguel! O maior namorado, mas um namorado!

Ele riu. Miguel era uma espécie de detector de coisas ridículas. Ele ria quando ouvia uma idiotice. E sempre estava correto. Sempre que ele fornecia ao ambiente essa risada sarcástica e curta era mesmo uma coisa ridícula que estava sendo dita. Laura sabia disso. E por não sentir-se ridícula, chateou-se. Decidiu-se menos delicada.

- Meu pai concorda!

- A única coisa que seu pai faz é te deixar livre para tirar suas próprias conclusões, sejam elas equivocadas ou brilhantes. É sempre você, sozinha, que descobre tudo!

- Você devia ser o homem que vem me buscar na estrada para trocar o pneu!

- Quando foi que o seu pneu furou, Laura?

- Várias vezes! Tarde da noite! E eu o troquei sozinha!

- E por que você não pediu ajuda?! Por que não ligou para mim?!

- Você me entendeu, Miguel! Você sabe o que eu quis dizer!

- Não eu não sei!

- Como não sabe!

- Eu quero entender como você pode me dizer que eu não sou um marido decente se você mesma não acha que precise de um!

- Como?!

- Você sabe trocar um pneu, Laura! Você cortou o galho da árvore que estava entrando pela janela!

- Você estava em casa!

- EU CHEGUEI MEIA HORA DEPOIS! – ele, agora, gritava. E ela já não tinha mais o quê dizer.

- Isso não é justo! VOCÊ COMPROU UM CARRO SEM ME COLSULTAR!

- Há quanto tempo você faz aulas de violão? – ele ria novamente. Ria para o ridículo.

- Seis meses. – uma lágrima desgraçada lhe corria os olhos.

- Música, Laura! Eu sou músico, Laura! Você não achou que eu gostaria de saber disso?!

- O que está havendo? - Laura agora estava completamente desorientada. Tudo o que pensava ser o motivo não o era. A decisão que havia tomado já não tinha fundamento algum. Pelo que tudo se mostrada ser, ela mesma só sabia metade da história.

- Você quer saber o que está havendo? – ele ainda ria. – Você diz que não tem suporte de mim. Diz que não te deixo participar da minha vida! Enquanto sou eu... O BABACA! Que está pendurado para o lado de fora da janela! Desesperado. Pedindo “ME DEIXA ENTRAR!”. – o riso já sumira e o desespero de um homem sem mais nada que fazer para resolver os problemas estampava-se no rosto dele. – Você não vai ser mãe sozinha, Laura! Se abrir a janela, eu ainda quero entrar...

- Eu...

- Você!

- Você comprou o carro para se vingar de mim? – chorou.

- Sim.

- Isso foi ridículo.

- Ah! - suspirou - eu sei...

Miguel levantou-se como fosse fazer as malas. Mas seu destino era o piano. Ao lado de Laura, o homem, de pé, tocou alguns acordes profundos. Aqui estava o clímax de todo um conto sobre a vida. Nada é o que se pensa ser. E alguns homens não são eternos garotos. Algumas mulheres não têm letras bonitas. A música está sempre presente. As borboletas espreitam pela janela, desesperadas para os seres humanos aprenderem à única lição que têm tempo de ensinar; de que não há tempo. Não se deve deixar que as asas murchem, pois é o fim. Os contos são sempre fábulas.

O tempo também. O tempo está sempre presente. E mais dois anos na vida deste complicado casal fizeram uma criança ruiva e exageradamente sorridente, atenta para o mundo, consumidora do Tempo. Olhões negros. Um gosto especial por Borboletas, um chapeuzinho Vermelho na cabeça.

A Borboleta Dourada

A borboleta Dourada voava sozinha por todas as partes de um pomar. Brincava com as folhas e dançava com as flores. A vida era tranqüila e armada para as pequenas alegrias. Nada de ruim que acontecesse poderia fazer um mal tão assustador, pois nada de bom que acontecesse a fazia perceber o quão ruim poderiam ser os infortúnios. Uma vida morna para um potencial tão valioso do inseto com asas de ouro. Um potencial que a lançava a um vôo estonteante.

Foi aí que a Borboleta Dourada viu o Sol. O poderoso fogo que a aquecia todo o tempo. Finalmente a Borboleta conseguira perceber que a fonte de todo o calor era a coisa mais maravilhosa do céu. Uma esfera, perfeita, de fogo. Passou a voar pelo Sol. Amando-o incondicionalmente. E o sol, apaixonado pelo fogo dourado do pomar, amava-a de longe, libertando luzes. Incondicionalmente.

O dia passava e as flores se fechavam. Não havia mais dança no final da tarde. Mas o que mantinha a Borboleta viva eram os raios do Sol. Nada mais fazia falta se houvesse o fogo dos céus. A alegria do Pomar era dourada. Tudo parecia reluzir. E tudo realmente reluzia. O Fogo dos Céus amava a Chama do Pomar.

No entanto, sem despedir-se, o Sol foi embora para trás da colina. Tudo ficou frio, escuro e solitário. Novamente, a Borboleta Dourada estava sozinha. Suas asas raras de ouro eram a única luz brilhando no pomar. Uma luz incandescente. Mas sozinha.

O tempo foi passando e a Borboleta ficando sem rumo. Sem ver nada. Tudo que pudesse ser apenas sentido fazia a diferença. Tudo o que não se podia ver cintilava as sensações da fraca Borboleta. Foi quando seus pequenos pulmões já ficavam fracos que ela conheceu o Ar.

O Ar. O que não ficava de fora e se lançava por entre e por dentro da Borboleta Dourada. Um novo ser que a mantinha viva. Mesmo sem a luz do sol. Mesmo que a Mãe Lua fosse apenas um reflexo incompleto de luz. Havia uma brisa que fazia sentido. Um novo amor que a segurava durante a noite.

Enquanto estava escuro, os novos amantes dançavam o cio entre as asas e o vento. O vento, de Ar, que nem mais a folhas tocava. Nem mais na água mexia. Nem mais a poeira incomodava. Tudo o que bailava na noite do pomar era ar e a borboleta. E uma luz que poderia ter se apagado, graças ao Ar, iluminava uma noite que deveria ser negra e prateada como a Mãe Lua. A Força dos Moinhos amava a Tecelã do Vento.

Mas o tempo se fazia passar enquanto o pomar, entre a montanha, girava no universo. E logo o inicio da manhã, sem explicação alguma, trazia de volta o Sol. Fraco e morno, tanto tempo que havia passado sem a Chama do Pomar. Avistou-a e mais força ganhava, e mais claro tudo ficava entre as árvores. Quando finalmente era forte de novo, conseguiu perceber que a Borboleta não passara a noite sozinha, que a borboleta não ficara tão fraca quanto ele. A Borboleta conhecera o Ar.

Enciumado, sem pedir explicações, o Fogo dos Céus queimou mais forte, e ao meio dia tudo era tão quente que as asas da Borboleta Dourada secaram. Pesaram como pedras de vulcão e, nem que o vento tentasse desesperadamente trazê-la de volta para as alturas, nada impediu que ela se chocasse com o Pai Terra e, ficasse ali, ferida para morrer.

O vento cessou. O Pai Terra chorou uma nascente. Até que a Mãe Lua estivesse sobre o céu novamente, a borboleta agonizou, até morrer, finalmente, trazendo o fim a essa história.

Por não poderem falar, os seres do Pomar, criaram esta tragédia. Por isso, até hoje as Borboletas vivem apenas por dois dias. E por não poderem explicar os ciclos que a Natureza montou, deram luz, para sempre, ao ciúme.


sexta-feira, 24 de abril de 2009

Por querer

Por querer.
Uma bailarina transmutável em tudo
Sem sapatilhas, com tudo nos próprios pés.
O chão é uma premissa menor
Madeira subjugada.
E, com seus próprios dedos, faz o chão.
Madeira subjugada sobre os seus tornozelos
Pau dos salões das cidades.
Prima verdade de pau.
Verdade de madeira.
Subjugada sob os pés duma dançarina.
Mulher de modelar a transformar-se. Por querer.

Diálogo com o amor do MEU amor

Então eu disse que amor é o quanto se pode oferecer pela vida de seu amado. E contamos em dias. Dias em passados oferecendo a ele todos os seus pensamentos mais importantes. Dias em que o ar foi menos importante. Dias em que o futuro deixou de existir. E dias da própria vida. Posto que me respondesse que coisas assim não existem. Que contos de fadas e músicas de Flávio Venturini são apenas desejos de artistas. Desejos sobre como gostariam que a vida fosse. Posto isso, discordei.

Disse-lhe seguidamente, que, tinha pena dela, existem os contos de fada, e o amor das fadas não é mesmo para qualquer um. Que é uma daquelas coisas que se deve ter lido Lya Luft pra ser capaz de produzir; pois quanto mais velhos ficamos, mais fácil deve ser viver a vida. Quando retrucou que quando crescesse entenderia, me livraria das ilusões, somei ainda a ideia de as complicações serem reais e existentes, mas que só contribuem para o calor. Para fazer de nós um forno ainda mais amante.

Riu de mim. Ri com ela, mas dela. Eu sou adolescente e prepotente. Ela é adaptada e fria. Caída da árvore. Repetiu o meu crescimento e firme entendimento da vida. Invoquei-me silenciosamente e aí respondi.

- Os maduros abusam da própria maturidade. Vivem a dizer que aprenderam da vida. Que o mundo é mais complicado do que nós jovens acreditamos que é. Assim, não sabem o erro que cometem ao negar-nos a saúde da vida!

Ela riu de novo. Então disse-lhe que o amor tem fim por natureza. Que o amor é quando se percebe um fogo. Se alimenta um fogo. Se explode. Parte-se em pedaços. Até encontrar uma outra grande e enormemente nova chama.

- Você que se diz madura e resolvida. Plena na vida. Você perde por sempre perder. Por que de certo sua vida é mais difícil que a minha jamais será. Por que se vive anos de um amor em que não há fogo, não ama. Jamais amou. Enquanto o amor é eterno porque é eterno, por ser eterno. O tempo no amor é o fogo. E dimensiona tudo o que é inflamável. E as horas são inúteis, pois não pegam fogo. Por que não nota o quanto deixaste a vida lhe esmurrar? Aprendeu errado, se deixou abater pelas lições erradas. E você perde. É medíocre. Fria.

Depois, pensei. Numa luz incrível que pudesse criar uma contagem perfeita. Que fizesse com que esses adultos, recém crescidos, percebessem o quanto errado aprenderam. O quanto o amor, o fogo, a paixão, as lareiras, o oxigênio e as centelhas são simples. São puras. Aprenderam com a vida justo o que não deveriam ter aprendido. Por que a vida ensina, mas ensina tudo ao mesmo tempo. Deve-se ser selectivo.

Quando a vida passa a ser mais difícil e mais difícil,é porque aprenderam as coisas erradas. Quando um amor acaba, deve-se aprender, que; acaba porque acaba. Não acaba porque não era real. Só o que é real pode acabar. A mentira nem mesmo começa.

Quando se está feliz de verdade. Se é feliz de verdade. E a felicidade é única coisa com o que não se é possível iludir. A única coisa com a qual não conseguimos enganar a nós mesmos. Não verdadeiramente. Sempre sabemos da felicidade. Feliz é feliz, e simples.

Simples, iluminadamente simples, o amor é mau e é bom. É verdade e é doente. É canhão e, mesmo assim, a bala. E mesmo piegas, é cheio de estilo, vaidoso e se acha o rei dos humanos. Quando é o rei dos artistas, dos poetas, dos músicos e dos bêbados.

- A próxima dose é por minha conta!