segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Borboleta Dourada

A borboleta Dourada voava sozinha por todas as partes de um pomar. Brincava com as folhas e dançava com as flores. A vida era tranqüila e armada para as pequenas alegrias. Nada de ruim que acontecesse poderia fazer um mal tão assustador, pois nada de bom que acontecesse a fazia perceber o quão ruim poderiam ser os infortúnios. Uma vida morna para um potencial tão valioso do inseto com asas de ouro. Um potencial que a lançava a um vôo estonteante.

Foi aí que a Borboleta Dourada viu o Sol. O poderoso fogo que a aquecia todo o tempo. Finalmente a Borboleta conseguira perceber que a fonte de todo o calor era a coisa mais maravilhosa do céu. Uma esfera, perfeita, de fogo. Passou a voar pelo Sol. Amando-o incondicionalmente. E o sol, apaixonado pelo fogo dourado do pomar, amava-a de longe, libertando luzes. Incondicionalmente.

O dia passava e as flores se fechavam. Não havia mais dança no final da tarde. Mas o que mantinha a Borboleta viva eram os raios do Sol. Nada mais fazia falta se houvesse o fogo dos céus. A alegria do Pomar era dourada. Tudo parecia reluzir. E tudo realmente reluzia. O Fogo dos Céus amava a Chama do Pomar.

No entanto, sem despedir-se, o Sol foi embora para trás da colina. Tudo ficou frio, escuro e solitário. Novamente, a Borboleta Dourada estava sozinha. Suas asas raras de ouro eram a única luz brilhando no pomar. Uma luz incandescente. Mas sozinha.

O tempo foi passando e a Borboleta ficando sem rumo. Sem ver nada. Tudo que pudesse ser apenas sentido fazia a diferença. Tudo o que não se podia ver cintilava as sensações da fraca Borboleta. Foi quando seus pequenos pulmões já ficavam fracos que ela conheceu o Ar.

O Ar. O que não ficava de fora e se lançava por entre e por dentro da Borboleta Dourada. Um novo ser que a mantinha viva. Mesmo sem a luz do sol. Mesmo que a Mãe Lua fosse apenas um reflexo incompleto de luz. Havia uma brisa que fazia sentido. Um novo amor que a segurava durante a noite.

Enquanto estava escuro, os novos amantes dançavam o cio entre as asas e o vento. O vento, de Ar, que nem mais a folhas tocava. Nem mais na água mexia. Nem mais a poeira incomodava. Tudo o que bailava na noite do pomar era ar e a borboleta. E uma luz que poderia ter se apagado, graças ao Ar, iluminava uma noite que deveria ser negra e prateada como a Mãe Lua. A Força dos Moinhos amava a Tecelã do Vento.

Mas o tempo se fazia passar enquanto o pomar, entre a montanha, girava no universo. E logo o inicio da manhã, sem explicação alguma, trazia de volta o Sol. Fraco e morno, tanto tempo que havia passado sem a Chama do Pomar. Avistou-a e mais força ganhava, e mais claro tudo ficava entre as árvores. Quando finalmente era forte de novo, conseguiu perceber que a Borboleta não passara a noite sozinha, que a borboleta não ficara tão fraca quanto ele. A Borboleta conhecera o Ar.

Enciumado, sem pedir explicações, o Fogo dos Céus queimou mais forte, e ao meio dia tudo era tão quente que as asas da Borboleta Dourada secaram. Pesaram como pedras de vulcão e, nem que o vento tentasse desesperadamente trazê-la de volta para as alturas, nada impediu que ela se chocasse com o Pai Terra e, ficasse ali, ferida para morrer.

O vento cessou. O Pai Terra chorou uma nascente. Até que a Mãe Lua estivesse sobre o céu novamente, a borboleta agonizou, até morrer, finalmente, trazendo o fim a essa história.

Por não poderem falar, os seres do Pomar, criaram esta tragédia. Por isso, até hoje as Borboletas vivem apenas por dois dias. E por não poderem explicar os ciclos que a Natureza montou, deram luz, para sempre, ao ciúme.


Um comentário:

Livia R disse...

amor que queima, por vezes mata!