sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carta de Amor

Meu amor, haverá tempo em que serei mais que uma pobre sem metafísica? Meu amor, como as pedras que são e sempre serão pedras, e não tem nenhuma fórmula que as faça evoluir à pássaros ou árvores ou ninhos. Será que serei, um dia, ouvida como algo mais que uma pedra?

Que penso em você todos os dias. E aceito isso. Será, meu amor, que é esta minha metafísica? Como os óculos que são seus e você os põe toda manhã depois de lavar o rosto, toda manhã abro os olhos e não sou capaz de escolher uma teoria que te exclua da minha vida. Será essa minha filosofia? A metafísica de ser sua? Porque visto o meu amor toda manhã, como você veste os óculos. Porque precisa deles para ver com clareza.

Meu amor, como estão seus olhos? Ainda querem ser verdes? Como anda a sua boca? Ainda virgem da minha? Confesso que já não sei. Não mais sei do real e do incerto, tantos os devaneios de saudade em que me meti. Já não sei mais o que realmente vivi, ou o que realmente sonhei. Tudo me parece real. Tudo é verdade em mim. Mais verdade que qualquer outra. Mais verdade que o chá que tomei esta manha. Porque tomei o chá pensando se estaria tomando chá comigo. Você é realidade em mim. E eu aceito isso. Mas como anda, meu amor, em você? O que é, de nós, realidade para todos? Sofro. Que minha realidade ronda sua casa e não é capaz de entrar. É capaz de me ouvir? Estou cantando.

Ouça-me. Pela última vez antes que eu pare de cantar meus versos. Ouça-me. Por favor, ouça. Diga-me, serei sempre a pedra que veste seus óculos?Quero ser pássaro, árvore, ninho ou terra fofa ou nuvens…

Meu amor, ouça-me.

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