sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Como a vida devia ser

A sala cheirava a canela, um cheiro que vinha do fogão da cozinha, no sofá ela assistia um filme de amor, ele deitava-se em seu colo, os cabelos em carícia, quase dormia. Alguma coisa sobre casais assistindo a filmes juntos representa harmonia. O modo como ele lhe abraçava as pernas, confiando a ela o amparo de seus pensamentos. Permitir que ele dormisse é outra concessão comum e voraz de assumir a calma.

- Sabe o que eu estava pensando?

- hum... – sonolento

- Que se você pudesse ouvir tudo o que eu penso, como se fosse você pensando, mesmo sabendo que eram pensamentos meus...

- Isso seria extremamente invasivo e geraria terríveis conflitos! – ele ajeitando-se nas pernas para poder olhá-la.

- Não! Me deixa falar, ia ser justamente o contrário, por que eu tenho auto-censura, tudo o que eu penso de ruim, eu penso que não devia ter pensado, logo em cima, e ainda me sinto culpada.

- Mas e as coisas que são ruins para mim e você pensa, achando que são boas?

- Essas coisas, são as coisas que você pensa que eu vou pensar, mas quando me pergunta eu nego, e mesmo assim você acha que eu só neguei pensar para não te deixar triste... Mas no fundo você já esperava que eu pensasse essas coisas.

- Pode ser...

- Se você pudesse ouvir todos, completamente, meus pensamentos, e eu os seus, no fundo, não brigaríamos, mas entenderíamos ainda mais as atitudes imaturas, os comportamentos inesperados... As vezes os porquês redimem as atitudes, por mais coisas ridículas que se possa fazer!

- É... Inteligente... utópico mas... – ele riu.

- Mas o quê – ela lhe espelhou o riso.

- Mas não seria como tentar rimar com ônibus? As pessoas são muito diferentes!

- Essa é a graça!

- Mas se elas se conhecessem tão profundamente... Não ficaríamos todos, meio, iguais? Quero dizer, no fundo, a gente é sempre controlado por versões diferentes dos mesmos sentimentos; medo, vaidade, prazer...

-Mas não seria interessantes perceber como as experiências diferentes de cada um se associaram com esses sentimentos? De que forma, o que aconteceu pra você ser mais vaidoso que eu, pra eu ter medo de sapo e você não gostar do mar?

- Nossa, mas você é tão inteligente... – e toda filosofia se desmonta pela barganha de um sorriso.

- Inteligente o suficiente pra eu ganhar um beijo?

- Não!

- Como não?!

- Meus beijos não são comprados, assim, por pensamentos inteligentes!

- Como eu compro seus beijos, então?

- Ah! Não sei... Canta pra mim...

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